Estudos em vários países, entre os quais Estados Unidos e Brasil, mostram que o diabetes tipo 2, que geralmente acomete adultos acima dos 40 anos, vem atingindo
um número cada vez maior de crianças e adolescentes.
Segundo o endocrinologista Adolpho Milech, os maus hábitos modernos são os causadores dessa chegada precoce da enfermidade.
"Há milhares de anos, o ser humano primitivo não dispunha da agricultura, era caçador e sobrevivia à escassez de alimento através de mecanismo poupador de energia, que adquiria em forma de gordura. Após as revoluções agrícola, industrial e tecnológica, houve uma mudança na alimentação e o homem foi ficando cada vez mais sedentário. O nômade que comia pouco tornou-se um ser com baixa atividade, ingerindo excesso de calorias. O resultado disso foi a expansão da obesidade e outras disfunções relacionadas a ela, como a hipertensão arterial e o diabetes", explica Dr. Adolpho Milech.
Ele diz ainda que o problema está mais ligado à vida urbana, em que há certo exagero no uso da internet, da TV a cabo, dos joguinhos computadorizados e carência na prática de exercícios físicos. Tudo isso aliado a uma predisposição genética e ao stress.
"Até 1979/80, dividíamos o diabetes do adulto do diabetes infanto-juvenil (correspondente ao que é atualmente o diabetes tipo 1, que necessita de insulina diariamente). Só que com essas modificações na maneira de viver da sociedade, o diabetes tipo 2 (que, a princípio, dispensa a insulina) começou a se antecipar totalmente, chegando à adolescência. Se observarmos boa parte dos jovens de hoje, verificaremos que são estressados, obesos e sedentários. Isso quase não se vê nos que vivem no campo", compara.
Ele faz um alerta para que os pais "fiquem de olho" no adolescente diabético que, embora não seja obeso, esteja controlando a glicemia com dietas ou comprimidos. "Nesse caso, também deve-se verificar, com exames, se não é um diabetes tipo 1, aparecendo numa fase em que a criança ainda tem certa reserva de insulina". De acordo com o endocrinologista, não se usa mais o critério de divisão de idade dos pacientes para definir o tipo do diabetes.
Complicações Antecipadas
O Dr. Milech esclarece que o tipo 2 do adolescente não é diferente do que acomete o adulto. A grande preocupação, no entanto, é que estudos mostraram que alguns fatores estão relacionados com o tempo de evolução da doença. "Quem tiver um diabetes diagnosticado aos 60 anos poderá ter complicações mais tarde. Já se a disfunção se manifestar em quem tem 15, 20 anos, poderá desencadear complicações quando o paciente chegar aos 40", diz.
Como boa parte dos pacientes diabéticos tipo 2 pode levar anos sem sentir nada, a situação fica ainda mais delicada. "Uma pessoa pode estar com a glicose a 130, 140, e fazer exame numa semana em que andou um pouco mais e comeu menos, dando 115 de taxa de glicemia, que é normal. Essa pessoa tem diabetes e não sabe", afirma o médico.
Predisposição Genética
Diferente do tipo 1, em que fatores genéticos e do meio ambiente entram mais ao acaso, o diabetes tipo 2 é marcado por uma predisposição genética. "O fato de alguém ter um tipo imunológico mais associado ao diabetes - que é o caso do tipo 1 - não quer dizer que vá desenvolver a doença. Já quem aparecer com um diabetes tipo 2, com certeza tem uma história hereditária dessa disfunção", ressalta o Dr. Milech.
Segundo o Dr. Jorge Luiz Luescher, médico da Endocrinologia Pediátrica do Instituto de Pediatria e Puericultura Martagão Gesteira-UFRJ, até o início dos anos 90 menos de 4% das crianças ou adolescentes com diabetes eram do tipo 2. "No entanto, pesquisas feitas em 1994, nos EUA, indicaram que 33% dos casos novos na faixa etária entre 10 e 19 anos já eram do tipo 2", informa.
Ele acrescenta que, conforme demonstrou o estudo norte-americano, determinados grupos étnicos, como o afro-americano, o hispano-americano e o americano de origem asiática, são mais suscetíveis ao desenvolvimento do diabetes, podendo chegar a até 45% de casos de tipo 2 em suas crianças e adolescentes.
"No Brasil, cuja população é mestiça, fica mais difícil esse tipo de pesquisa de raças. Mas, no geral, as estatísticas mostram que, no tipo 2, a obesidade é responsável pelo desencadeamento de 85% das histórias dessa disfunção, sendo que cerca de 50 a 80% dos pacientes têm um dos pais na mesma situação (tipo 2) e 74 a 100% são parentes em primeiro ou segundo graus de um diabético tipo 2. Já apenas 5% das crianças com o tipo 1 têm algum familiar com diabetes", esclarece o Dr. Luescher.
Obesidade É Fator de Risco
Sendo a obesidade um dos principais fatores de risco para a antecipação da chegada do diabetes tipo 2, como convencer a criançada a se alimentar bem, comendo frutas e legumes, em vez de ingerir grande quantidade de gordura e calorias? A televisão não dá qualquer ajuda nesse sentido, já que exibe maciçamente anúncios de produtos industrializados, com alto teor de ingredientes que nada contribuem para a saúde dos telespectadores.
O Dr. Luescher diz que isso realmente é um grande problema. "Como pediatra, no dia-a-dia do meu trabalho vejo as mães reclamarem da dificuldade em convencer os filhos a ingerirem alimentos mais saudáveis. Além do mais, a garotada está se exercitando menos, predispondo a insulino-resistência", afirma.
Diante disso, ele faz um alerta dirigido principalmente às famílias que tenham casos de diabetes tipo 2, para que dêem esclarecimentos e cuidem de suas crianças, evitando que elas engordem muito e incentivando-as a praticar exercícios físicos aeróbicos.
O Dr. Milech, por sua vez, acredita que deveria haver um plano do Governo para educar a população, ensinando-a como se alimentar adequadamente e alertando sobre os riscos do sedentarismo.
Ausência de Sintomas
De acordo com o Dr. Luescher, a puberdade também facilita o desenvolvimento de uma síndrome de insulino-resistência, devido ao aumento do GH (hormônio do crescimento). Em crianças que não têm propensão genética, o pâncreas consegue compensar o organismo. Já nos menores obesos e descendentes de pacientes diabéticos tipo 2, é maior a possibilidade de desencadeamento dessa disfunção.
No que diz respeito aos sintomas do diabetes tipo 2, o pediatra assinala que, muitas vezes, o paciente não apresenta nenhum deles. Isso dificulta bastante o diagnóstico, sendo necessário o exame de glicose no sangue em jejum. Para indicar a ausência do diabetes, esse exame não pode dar acima de 125 por duas vezes.
O paciente pode ainda apresentar os mesmos sinais que fazem com que o médico desconfie de diabetes tipo 1, como urina em excesso, muita sede, fome exagerada ou perda de peso.
Outros fatores que ajudam a detectar o diabetes 2 são o colesterol alto, hipertensão arterial, excesso de pêlo, um sinal denominado acantosis nigricans (mancha preta, aveludada, que se apresenta geralmente no pescoço, nas axilas ou na região da virilha). Nas meninas, surge a síndrome de ovário policístico (que pode ser percebido através de alterações menstruais).
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