A suplementação alimentar de creatina — composto derivado de aminoácidos — aliada a exercícios físicos regulares melhora o controle glicêmico de pessoas com diabetes do tipo 2. Pesquisas do Laboratório de Nutrição e Metabolismo da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP revelam que a creatina ajuda a controlar a taxa de açúcar no sangue, elevada em diabéticos.
A segurança do composto também foi comprovada, pois não foram observadas alterações ou sobrecarga das funções renal e hepática nos diabéticos participantes do estudo. Além de ajudar no controle da diabetes, creatina não causa danos ao organismo
A diabetes do tipo 2 é caracterizada pela incapacidade das células absorverem glicose da corrente sanguínea, o que é explicado pela resistência do organismo à ação da insulina. As principais indicações médicas para o controle da doença são a prática de atividades físicas e o uso de hipoglicemiantes orais.
— Ambos ajudam a jogar o açúcar para dentro da célula e a creatina pode ter um papel nessa função também — declara Bruno Gualano, professor do Departamento de Biodinâmica do Movimento Humano da EEFE e autor da pesquisa.
Os estudos constataram que a suplementação de creatina, juntamente com os exercícios físicos, é mais eficiente no tratamento da doença do que os exercícios praticados isoladamente e tão eficiente quanto à metformina — medicamento mais empregado no tratamento de diabetes do tipo 2.
Além disso, Gualano ressalta que a eficácia da creatina foi observada em conjunto às atividades, ou seja, apenas a suplementação de creatina, sem treinamento físico, poderia não resultar em benefícios.
As melhoras observadas se explicam pois a creatina atuou no deslocamento, chamado de translocação, da proteína GLUT-4.
— Ela fica dentro das células. Sua função é se deslocar do interior até a superfície, ‘pegar’ o açúcar que está fora, no sangue, e transferi-lo para dentro da célula — explica Gualano.
Em diabéticos tipo 2 essa função não é realizada em níveis adequados.
— A creatina atuou nesse aspecto, elevando a translocação de GLUT-4 a níveis similares aos observados em pessoas sem a doença — completa.
Proibição
Até o fim de abril suplementos alimentares de creatina tinham sua comercialização proibida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), pois se alegava que os efeitos nocivos à saúde não eram conhecidos. Porém, inúmeras pesquisas científicas já comprovaram que o composto — produzido naturalmente pelo organismo — não é prejudicial à saúde se ingerido com moderação.
As pesquisas da EEFE constataram, mais uma vez, a segurança da creatina. Não houve nenhum tipo de prejuízo à saúde dos pacientes que ingeriram o composto, em doses de cinco gramas por dia, ao longo de três meses.
Uma possível sobrecarga das funções renal e hepática também não foi observada.
— Um terço dos pacientes tinham doença renal crônica e mesmo assim não foram constatados problemas ou alterações. O mesmo vale em relação ao fígado — aponta Gualano, que acrescenta:
— A creatina tem um potencial terapêutico excepcional e pode ser essencial no tratamento de muitas doenças caracterizadas por perdas de força, massa muscular, cognição, massa óssea e sensibilidade à insulina.
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